O aumento de 3,2% do Produto Interno Bruto (PIB) da China no segundo trimestre de 2020 em comparação com o mesmo período do ano anterior, divulgado na noite desta quarta-feira, 15, deve ampliar a vantagem do Brasil na balança comercial com o país asiático. Para analistas, a recuperação ante a queda de 6,8% das atividades econômicas nos três primeiros meses do ano reforçará as exportações brasileiras, que neste ano já apresentam resultados melhores do que no ano passado.
A China é o principal parceiro comercial brasileiro e foi destino de 28,1% das exportações em 2019, segundo dados do Ministério da Economia. O país asiático foi responsável pela compra de US$ 65,389 bilhões de produtos do Brasil no último ano, principalmente soja, minério de ferro e proteína animal. Em contrapartida, os chineses venderam US$ 35,881 bilhões ao país.
Segundo a diretora-executiva do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), Claudia Trevisan, mesmo com o recuo histórico do PIB chinês nos três primeiros meses deste ano, e a consequente crise econômica mundial causada pelo novo coronavírus, as exportações brasileiras cresceram 14,6% no primeiro semestre deste ano, em comparação com o mesmo período de 2019.
“A tendência é manter esse crescimento ao longo do ano, principalmente se a economia chinesa continuar se recuperando”, afirma. A alta, segundo a entidade, foi puxada pelo aumento de 165% das exportações de carne bovina e 167% de carne suína após uma crise sanitária que forçou a redução da produção de proteína animal no país asiático no ano passado. Além disso, a soja teve aumento de 31% e o minério de ferro cresceu 27% no último semestre. “A China tem uma política de crescimento pautada no investimento em infraestrutura, com muito uso do aço. Então a previsão é que a venda do minério de ferro também cresça nos próximos meses.”
Para o professor de economia do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper) e especialista em China, Roberto Dumas Damas, o agronegócio brasileiro será o maior beneficiado pela retomada da economia do país asiático. Além da falta de uma produção local de proteína animal, o professor aponta o aumento do poder aquisitivo das famílias chinesas como propulsor deste crescimento ante queda das atividades econômicas em outros parceiros comerciais do Brasil.
“Com essa recessão nos Estados Unidos e União Europeia, mais de 70% do nosso agronegócio esta indo para a China”. Ele cita ainda outras questões internacionais como ponto positivo ao Brasil. “A recente rusga com a Austrália, que vendia proteína animal para os chineses, também tende a beneficiar os produtores brasileiros.”
O Fundo Monetário Internacional (FMI) espera que a China cresça 1% neste ano, e 8,2% em 2021, quando os efeitos da crise já terem sido majoritariamente superados. Pedro Brites, professor de relações internacionais na Fundação Getulio Vargas (FGV), chama a atenção para o fato da China já mostrar sinais de recuperação dos reflexos da Covid-19 no momento que outras economias ainda se esforçam para combater o vírus. “Na medida que outros países têm uma recuperação mais lenta, a China está vai estar à frente, e é possível que ela se torne ainda mais preponderante na balança comercial brasileira”, afirma.