Até então, as principais demandas de atendimentos feitas às unidades eram de vacinação, pré-natal e de síndromes gripais. Pacientes que deixaram de fazer consultas programadas em postos de saúde devido à pandemia do coronavírus poderão voltar a fazê-lo
Foto: Helene Santos
A partir desta segunda-feira (20), pacientes que deixaram de fazer consultas programadas em postos de saúde devido à pandemia do coronavírus poderão voltar a fazê-lo, com o retorno completo das agendas dos 114 postos de saúde em Fortaleza. Entre os dias 6 e 10 de julho, foram realizados mais de 40.000 agendamentos especializados.
Dentre os agendamentos realizados, as demandas mais frequentes incluem os acompanhamentos de pacientes em reabilitação do desenvolvimento neuropsicomotor, fisioterapia motora, mamografia para rastreamento do câncer e consultas de oncologia clínica e oftalmologia.
“Desde sempre a gente precisou remodelar os atendimentos para os pacientes com síndrome gripal. Então, os pacientes que não tinham síndrome gripal passaram a procurar menos os postos. Felizmente, agora a partir do dia 20, estamos com 100% das agendas disponíveis”, destaca a secretária municipal da Saúde, Joana Maciel.
Até então, eram realizados atendimentos como vacinação, pré-natal e de síndromes gripais, levando em consideração as medidas de distanciamento e o uso de equipamentos de proteção individual (EPIs) por parte dos funcionários.
“Agora a gente clama à população que não deixe de ir ao posto de saúde, que volte para fazer seu acompanhamento de hipertensão, de diabetes, por exemplo. Estamos prontos para atendê-los”, diz a secretária.
Precauções
Para a infectologista Melissa Soares, que atua nos hospitais São José, São Camilo e no Hospital Geral de Fortaleza (HGF), o momento é adequado para a retomada da agenda nos postos de saúde, desde que se tenha um “projeto de retorno com segurança”, para garantir, em especial, a continuidade no acompanhamento de pacientes crônicos.
“Hoje estamos na metade de julho e a gente realmente já vê uma queda muito grande nos atendimentos da Covid-19, inclusive em hospitais de emergência, tanto públicos como privados, então a epidemia parece estar controlada dentro da cidade. A gente não viu a possibilidade de uma nova curva mesmo com a reabertura de muitos serviços, que talvez nem fossem tão essenciais quanto as consultas nos postos de saúde”, avalia.
A médica reforça que os cuidados necessários durante a retomada das agendas nos postos são as mesmas precauções primordiais em todas as condutas a partir de agora, no momento de pandemia, até que o vírus tenha sido controlado definitivamente.
Insegurança amenizada
Para profissionais deste setor da Saúde, a sensação de insegurança foi amenizada com o passar do tempo. A diretora setorial de Saúde do Sindicato dos Servidores Públicos do Município de Fortaleza (Sindifort), Regina Cláudia Neri, diz que os trabalhadores “já viveram dias piores”, e como o retorno foi sendo gradativo, os riscos foram minimizados.
Ela ressalta, porém, uma preocupação com os agentes de saúde, que fazem visitas domiciliares. “Esses sim são casos um pouco complicados, porque muita gente ficou dentro de casa, e a possibilidade de ainda ter contaminação é muito grande. Existe uma falha no município, que é a testagem. Nós, servidores, temos essa grande dificuldade. A testagem domiciliar, por amostra, é da população em geral. Mas os testes em servidores, em profissionais, não estão sendo garantidos”, afirma.
A diretora detalha que os testes aplicados em profissionais da área indicam somente o resultado positivo ou negativo, o que não seria suficiente. “Tem que ser um teste detalhado, que diga se você tem anticorpos, imunidade, e isso não é oferecido”, diz.
De acordo com a Secretaria Municipal da Saúde (SMS), a Prefeitura adotou a testagem para diagnóstico de Covid-19 em profissionais da saúde desde o início da pandemia no município. “Mais de 8 mil profissionais desta área já foram testados”, conclui a pasta.
A volta ao trabalho nesta semana vem acompanhada de tranquilidade no caso de Leka Trigueiro, 46. A agente de saúde esteve afastada da função desde março, por ter hipertensão, e, assim, fazer parte do grupo de risco da Covid-19. Para ela, se for submetida ao teste para identificar a doença, e estiver recebendo EPIs para dar continuidade às visitas domiciliares, não haverá mais “tanto o que temer”.
Com 10 anos de experiência na área, a rotina da profissional inclui visitas a cerca de 12 lares por dia. O contato com o paciente é necessário e, segundo ela, faz parte do processo. “No início, acho que era mais difícil. A gente ia fazer as visitas e as pessoas não abriam nem a porta pra gente. Hoje, eu sei que tem muitos pacientes querendo voltar, muitos acham que já está passando da época de fazer uma prevenção. Tudo isso nós vamos remarcar”, afirma.