O discurso de Bolsonaro na ONU

Cumprindo uma tradição histórica, na qual cabe ao chefe de Estado brasileiro proferir o discurso inaugural da Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), o presidente Jair Bolsonaro fez, na manhã de ontem, de forma virtual em razão da pandemia, um pronunciamento num tom menos agressivo que em 2019 (que chocou a muitos), mas, mesmo assim, não fugiu às polêmicas que têm marcado sua atuação.
Assim como no ano passado, Bolsonaro fugiu do tema deste ano da assembleia, que é a promoção do multilateralismo, e, entre mensagens exaltando os feitos de seu governo no combate à epidemia da covid-19, defesa da liberdade religiosa e combate ao que chama de “cristofobia”, o Presidente concentrou sua fala na defesa às críticas à condução da política ambiental de seu governo. Acusou a imprensa, o protecionismo de outras nações e os “interesses escusos” de organismos internacionais pelas denúncias de responsabilização de gestão pelas queimadas nas regiões amazônicas e pantaneiras.
No que tange ao assunto atual de maior relevância global e que marcará o ano de 2020 para sempre, a terrível pandemia do novo coronavírus, a fala do Presidente de que: “teve sua atuação limitada por decisão judicial do Supremo Tribunal Federal, culpando os governadores e parte da imprensa pela disseminação do pânico entre a população, sob o lema ‘fique em casa’ e ‘a economia a gente vê depois’, trouxeram o caos social ao país”. Foram afirmações que expuseram ao mundo um país totalmente desarticulado, em um momento que se exige forte liderança e conjugação de esforços.
Sua mensagem, vitimizando-se como perseguido por críticas injustas, também se monstra improducente em relação à questão ambiental. Simplesmente culpar os “indígenas e caboclos” pelas queimadas, e afirmar que seu governo é alvo de “uma das mais brutais campanhas de desinformação sobre a Amazônia e o Pantanal”, além de não refletirem precisamente a realidade, absolutamente em nada contribuem para a melhoria da imagem do País junto à comunidade global.
Em suma, o discurso poderia ter sido muito mais frutífero se adotasse um tom menos reativo às críticas, e sim, mais propositivo. Se ao invés de apontar o dedo aos supostos algozes, agiria melhor se indicasse os caminhos que a nação brasileira seguirá, reafirmando a responsabilidade nacional com os valores do meio ambiente e assumindo compromissos da ampliação das ações e metas de preservação ambiental.
Bolsonaro enalteceu muito que estava restabelecendo a “verdade”. Mas, o Presidente tem de entender que a percepção muitas vezes destaca-se mais que a realidade, assim como os fatos e ações mais que a retórica.

JOSÉ MARIA PHILOMENO
ADVOGADO
E ECONOMISTA

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By Samanta Abdala

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