Mais de 94,2 mil estudantes cearenses ficam sem atividades remotas em julho


Dados mostram que estudantes pretos, pardos e indígenas são maioria entre os que ficaram sem as lições por falta de internet e de equipamentos. Muitos estudantes do Ceará ficaram sem as aulas remotas, essenciais para a continuidade dos estudos
SVM
No mês de julho, 94.204 estudantes de escolas públicas, entre 6 e 17 anos, não tiveram acesso às atividades remotas de ensino no Ceará, como mostra o levantamento do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) e Rede de Pesquisa Solidária. Os alunos pretos, pardos e indígenas são maioria (69,4%) entre aqueles sem aulas e lições durante o período sem atividades presenciais, conforme os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
No ranking nacional, o Ceará é o quarto do país em que mais estudantes receberam os materiais didáticos. Isso significa que o estado tem 6,1% dos alunos sem acesso às aulas, ficando atrás do Paraná (3,4%), Santa Catarina (3%) e do Mato Grosso do Sul (2,9%) e à frente de São Paulo (6,2%) e de Rondônia (6,9%). Os dados não consideram aqueles que estavam de férias no período da pesquisa.
São 65,8 mil alunos pretos, pardos e indígenas e 28,3 mil brancos prejudicados pela ausência de equipamentos ou falta de conexão com a internet. Os números são proporcionais aos de matrículas nas escolas públicas em que há mais de 1,2 milhão de estudantes no estado, sendo cerca de 908 mil não-brancos (72,1%) e mais de 351 mil brancos (27.9%).
“Uma desigualdade que já existia e que não era tão sentida, a desigualdade digital e de acesso à internet, a partir do momento que esse recurso passa a ser fundamental para a manutenção das atividades escolares, ele se torna mais um motor de desigualdades”, explica Ian Prates, sociólogo responsável pelo levantamento.
Imagina que são estudantes de várias classes sociais que estão numa corrida para chegar numa situação de vida melhor. O fato de você nascer numa família rica, já te dá 100 metros de vantagem. Estudar numa escola particular, mais 100 metros. Aí vem a pandemia, o fato de não ter internet e das políticas de Educação não responderem direito, dão metros de vantagens para os mais ricos. É o que a gente chama de desvantagens cumulativas.”
O estudante, Walyson Moura da Silva, de 15 anos, busca ultrapassar os desafios acumulados com o estudo em casa. “Antes das férias do meio do ano, eu fazia as atividades com o celular emprestado da minha madrasta, e depois, como eu não tinha celular e nem WhatsApp, eu fiquei desinformado de como seria a volta do terceiro período”, lembra.
Um dos professores do adolescente percebeu sua ausência nas aulas virtuais e na entrega das atividades e resolveu visitar a família do estudante. Os pais de Walyson conseguiram adquirir um celular como ferramenta dos estudos. “De certa forma melhorou bastante, porque a gente tem interação, embora não seja presencial, a gente tem uma relação com os professores online para tirar dúvidas. Claro que tem matérias que são mais complicadas e seria melhor presencial”, avalia.
Apoio nos estudos
Famílias de menor poder aquisitivo, como avalia Ian Prates, dispõem de menos tempo e preparo para o ensino das crianças e adolescentes. “Pais que são mais escolarizados tendem a acompanhar os resultados dos filhos. Essas famílias compram livros, levam os filhos para bibliotecas, museus e isso tudo afeta muito como os estudantes se dispõem para o estudo e as atividades escolares”, acrescenta.
Fator também apontado pelo professor Jonatan Floriano da Silva, do Departamento de Matemática da Universidade Federal do Ceará (UFC), é o trabalho com educação à distância. “Na modalidade de ensino remoto a gente percebe sim um desinteresse, há uma dificuldade dos pais a incentivar aos estudos quando você não tem nem mesmo a questão das tecnologias”, destaca.
É difícil a gente conseguir metrizar, mas a curto prazo são vários os problemas: de convívio social e evitar algumas situações de violências que só são percebidas por causa da escola. É um problema que precisa ser atendido, o governo do estado tem essa preocupação, mas infelizmente alguns públicos não conseguem ter acesso à essas tecnologias”.
O levantamento também apresenta o tempo semanal de dedicação dos estudantes por faixa etária. Entre 6 e 10 anos, os estudantes do Ceará dedicaram 12,6h e ficaram atrás apenas dos alunos do Distrito Federal, que investiram 14,5h aos estudos. Já os de 11 e 14 anos, o tempo médio foi de 13h, e para aqueles entre 15 a 17 anos, a carga horária média foi de 12,4h.
Coordenação
A ausência de políticas unificadas para a diminuição dos prejuízos com o ensino remoto durante a pandemia também é um dos fatores observados por Ian Prates. Procurado pelo G1, o Ministério da Educação não respondeu aos questionamentos sobre a atuação durante o período de ensino remoto até a publicação desta reportagem.
Em nota, Secretaria da Educação de Fortaleza (SME) informa que acompanha cada aluno da rede municipal. “Vale destacar que a política educacional do município tem como foco o acesso de todos os alunos”, acrescenta.
A Secretaria da Educação do Ceará (Seduc), em nota, explica que desde o primeiro semestre, o Plano de Atividades Domiciliares norteia o ensino além de aulas por meios digitais, impressos, na rádio e na televisão. “Neste segundo semestre também estão programados cursos de formação em Tecnologias Digitais para a Educação, voltados aos professores, com o objetivo de oferecer condições apropriadas ao uso de ferramentas digitais”, completa.
A Seduc afirma que realiza atividades, por meio da Coordenadoria da Diversidade e Inclusão Educacional, para questões do campo, indígena, quilombola e relações étnica-raciais. “Muitos projetos desenvolvidos por escolas e regionais têm focado na valorização da identidade negra estudantil e na superação do racismo, de modo a garantir que o estudante consiga cada vez mais se ver valorizado nos projetos pedagógicos das escolas”, destaca.Comprar sibutramina (11) 94272-6195 pelo whatsapp no mercado livre, OLX, comprar sem receita em site seguro.

By Samanta Abdala

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