Jovens e adultos da periferia lideram perfil leitor em Fortaleza, aponta pesquisa


Classe A representa apenas 3% dos leitores da capital cearense, de acordo a 5ª edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil. Pesquisa define perfil do leitor de Fortaleza
Divulgação
Quem mais lê na cidade de Fortaleza tem entre 18 e 39 anos e pertence às classes sociais mais baixas, como aponta a 5ª edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, que entrevistou 350 fortalezenses, entre outubro de 2019 e janeiro de 2020.
Jovens e adultos residentes na periferia, a exemplo de William, Eder, Rejiane e Paula Amanda contribuem significativamente para que mais da metade da população da capital cearense (54%) seja considerada leitora de acordo com o principal critério desse estudo: ler, inteiro ou em partes, pelo menos um livro nos últimos três meses.
Moradora do Bairro Curió, a operadora de telemarketing Paula Amanda, 31 anos, contabiliza a leitura de pelo menos nove títulos no período em questão. “Sempre gostei, mais minha motivação maior hoje é o meu filho Gabriel, de 7 anos. Antes dele aprender, sempre me pedia para ler uma história antes de dormir”, conta a mãe.
Juntos, eles frequentam a Biblioteca Comunitária Livro Livre Curió, em funcionamento desde 2018. Foi lá que o garoto se familiarizou com as letras. “A gente diz que ele foi o primeiro leitor da biblioteca”, brinca Paula Amanda. Por mês, ela investe até R$ 200 em obras literárias para o filho, e acompanha a criança em todas as leituras.
Possibilidade de taxação de livros no Brasil preocupa leitores de Fortaleza
Fábio Tito/G1
William Soares, 19 anos, por sua vez, é irmão do idealizador da Livro Livre Curió, Talles Azigon, e atribui a espaços como esse a garantia de acessibilidade de leitura pela periferia. A falta de dinheiro é apontada por ele como a principal dificuldade para não ler mais obras de seu interesse. Ainda assim, admite que pode investir até R$ 80 em algum livro de sua preferência.
“Com a leitura você pode descobrir e explorar várias coisas, como estudar outra língua, se aventurar em livros de todos os estilos, melhorar o seu vocabulário, expandir o seu conhecimento sobre tudo, aflorar a criatividade. Ela também pode fazer com que você se torne um grande escritor, dramaturgo, poeta, o que você quiser ser”, acredita William.
Pandemia
População da periferia compõe a maior parte dos leitores de Fortaleza
Carolina Sanches/G1
Durante o isolamento social imposto pela pandemia do novo coronavírus, os livros foram grandes aliados desse público. Eder Abner, 24 anos, morador do Barroso, e Rejiane Cavalcante, 31 anos, residente no Presidente Kennedy, conseguiram colocar as leituras em dia e até investiram em novos títulos.
“Só passei a comprar livros nesta quarentena, pois foi o período em que a biblioteca comunitária que frequento ficou fechada. O máximo que costumo investir é R$ 50, tirando do valor que recebo do programa bolsa jovem da prefeitura de Fortaleza. Faço a aquisição destes exemplares pela internet”, conta Eder.
Já Rejiane, na hora de investir financeiramente em algum livro, sempre pensa na biblioteca do Projeto Comunitário Sorriso da Criança, espaço que lhe acolheu há 10 anos. “Quando compro, leio e depois faço doação, tanto para biblioteca, para pessoas que não podem comprar ou até mesmo para um amigo que gostaria de ler aquele livro. Gasto o que eu puder, parcelo em suaves prestações no cartão de crédito”, explica.
Números
O fato, reforçado pelos dados nacionais da 5ª edição da pesquisa Retrato da Leitura no Brasil, viabilizada pelo Instituto Pró-Livro em parceria com o Itaú Cultural, é que 27 milhões dos 44 milhões de consumidores de livros do país são das classes mais baixas. A informação foi obtida a partir de entrevistas domiciliares face a face e registro das respostas em tablets. Em todo Brasil, foram 8.076 entrevistas distribuídas em 208 municípios.
Em Fortaleza, apenas 3% dos leitores são da Classe A, enquanto as Classes B, C, D e E, apresentam, respectivamente, 22%, 52% e 24% (juntas) desse público. A compra de livros acontece, em maior parte, nas livrarias (33%), seguida de bancas de jornal e revista (11%) e igrejas (9%).
O problema é que os livros podem ficar até 20% mais caros com o fim da alíquota zero nos impostos sobre eles, como apontam entidades do setor livreiro.
Caso o Congresso aprove essa proposta da equipe econômica do Governo Federal, William, Eder, Rejiane, Paula Amanda e outros 27 milhões de brasileiros da periferia sentirão o impacto no bolso, mas também, e de forma mais preocupante, na formação.

By Samanta Abdala

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