Um dos PMs chega a pôr o joelho em cima do pescoço do abordado. Órgãos de Segurança investigam o caso. Moradores do bairro Pedras denunciam agentes da PM por agressão
Um vídeo gravado na madrugada da última sexta-feira (10) mostra um homem levando socos e um tapa durante uma abordagem policial em uma comunidade localizada no Bairro Pedras, em Fortaleza. Nas imagens, três policiais militares participam da ação. A Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário (CGD) investiga o caso.
Primeiramente, quatro policiais realizaram a abordagem. Após um deles sair, é possível ver nas imagens que três continuam rendendo o homem. Um dos PMs chega a colocar a perna sobre o pescoço da vítima das agressões, que já está no chão. Quando é levantado, ele leva um tapa no rosto e, em seguida, dois socos na barriga.
A esposa da vítima, que não teve a identidade revelada, afirmou que não houve motivo para as agressões sofridas pelo marido. De acordo com ela, o homem estava apenas ingerindo bebida alcoólica no local, quando foi abordado pelos policiais.
“Disseram que ele era bandido, perguntaram sobre drogas e armas. Disseram que iam matar ele, e o torturaram. Ele é cidadão, ele trabalha e está com medo. Tem medo de andar na rua, de ficar dentro de casa, pois os policiais que agrediram ele podem voltar e fazer o mal”, disse a mulher.
Ela relatou também que o marido continua ferido após o episódio de violência. “O peito está inchado. Os olhos dele estão com uma mancha vermelha. Eu estou traumatizada e com medo. Isso não é coisa que se faça não, pois ele não estava fazendo nada, ele estava bebendo, mas é cidadão. Depois das 20h, se estiver no meio da rua, a pessoa pode ser agredida”.
População amedrontada
Os moradores da região dizem estar temerosos com as abordagens da Polícia no local. Um deles afirma que até as crianças do bairro se assustam com a presença da PM.
“Infelizmente a população está temendo a Polícia. Estamos inseguros. Vemos uma viatura e ficamos naquele impasse. Porque se eu chegar de madrugada, do trabalho, eles podem me bater, fazer o que quiser. Isso acontece constantemente no bairro. As crianças correm para dentro de casa com medo quando veem uma viatura da PM.” desabafou o morador.
Um outra moradora reafirma que há truculência policial na região.
“Aqui só tem moradores carentes. Aqui não tem bandido, só tem pai de família. A Polícia chega e quebra tudo. Eu quero que o Comando Geral bote policial classificado para trabalhar, pois os que estão aqui só estão para espancar”.
Investigação
Em nota, a Polícia Militar do Ceará (PMCE) informou que, de acordo com os policiais que estavam na ocorrência, o homem foi abordado durante um patrulhamento na região, “quando dois indivíduos foram avistados em atitudes suspeitas”.
Segundo a Corporação, após um deles fugir, os agentes renderam o homem que aparece no vídeo. Na ação, ele estaria “apresentando comportamento bastante alterado, reagiu e precisou ser contido pelos agentes de segurança”.
A Polícia Militar informou ainda que o homem foi levado pela viatura até a casa dos pais, onde permaneceu após a abordagem da PM. A Instituição disse que “as circunstâncias nas quais se deram o fato já estão sendo devidamente apuradas”.
Por sua vez, a Controladoria Geral de Disciplina afirmou que determinou “a imediata apuração dos fatos na seara administrativa disciplinar. Foram adotadas diligências a fim de identificar os agentes envolvidos na denúncia”.
Caso Mizael
A Delegacia de Assuntos Internos (DAI) da CGD está investigando outro caso envolvendo policiais, dessa vez em Chorozinho, na Grande Fortaleza. No último dia 1º de julho, o adolescente Mizael Fernandes da Silva, de 13 anos, foi morto em casa. Segundo a família, ele estava dormindo quando foi brutalmente atingido por um disparo de arma de fogo durante diligências da Polícia Militar do Ceará.
Policiais militares suspeitos de matar adolescente em Chorozinho são afastados
Dois policiais militares, sendo um soldado e um sargento, são alvos de um Inquérito Policial Militar (IPM) que apura a participação na morte. O G1 apurou que um dos PMs envolvidos na ocorrência já era investigado por torturar um homem durante diligências no interior do Ceará, em fevereiro de 2019.
Fontes ligadas à investigação do caso afirmam que os dois policiais disseram em depoimento que a vítima estava armada e tentava se esconder atrás de uma porta. Na versão dos agentes, eles estavam à procura de um adolescente com histórico de atos infracionais e que, segundo os servidores, “seria perigoso”.
A família de Mizael se revolta com a versão dada pelos policiais e pede justiça para o caso.