Felipe Neto é um dos grandes influenciadores do país. Um talento que, de dentro do quarto, se tornou um empresário de sucesso, capaz de se comunicar com grandes públicos. Nisso, merece todos os méritos. Mas mesmo os talentos erram. Em um vídeo do final de junho, ele responde a um fã sobre seus investimentos dizendo que não tem ações, pois Bolsa de Valores não tem nada a ver com produção de riqueza. “Eu não gosto de gerar riqueza sem produzir nada para o mundo”, completou. O vídeo não deixa de ter sua graça. O influencer diz, por exemplo, que um malabarista de sinal produz mais para a sociedade do que alguém que tem ações de uma empresa. Ironias à parte, Felipe Neto voltou atrás na noite de segunda-feira, 13. Diz que aprendeu mais, entendeu a importância da Bolsa para financiar empresas e que mudou de ideia. Méritos de quem é capaz de reconhecer erros e aprender.
Mas, como a fala original repete a grande incompreensão que existe entre muitas pessoas sobre a Bolsa de Valores, vale a pena falar dela. É a ideia de que o mercado de ações não tem nada a ver com o mundo real. Investidores viveriam de comprar e vender papéis sem nenhum efeito sobre a produção de riqueza para a sociedade. Imagine que você tenha um negócio. A empresa vem indo bem, cresceu, atraiu um bom número de clientes, mas, para continuar competindo com a concorrência, é preciso investir R$ 1 milhão. Seja para expandir a produção, se você tem uma pequena fábrica, abrir uma filial de uma cafeteria ou melhorar a plataforma de negócio, se você tem uma startup e criou aplicativo.
Ocorre que você não tem o dinheiro. Daí, tem dois caminhos: vai ao banco e pega um empréstimo. Nesse caso, a taxa média de juros cobrada é de 15% ao ano devido ao gigantesco spread bancário brasileiro. Ou você faz um IPO – sigla em inglês para oferta pública inicial. Com a venda de parte da empresa, você atrai novos sócios em troca da distribuição de parte dos lucros – dividendos e juros sobre o capital próprio – que terá por ano. Para a empresa e também para a economia do país, as ações permitem obter financiamento. Mesmo dividindo parte dos rendimentos com os acionistas, pode investir mais nos negócios, criando empregos e riqueza. O que beneficia a sociedade como um todo.
*Samy Dana é economista e colunista da Jovem Pan.