Nas últimas semanas, em quase todos os dias pelo menos uma empresa veio a público mostrar interesse em abrir o capital e captar dinheiro na Bolsa. Apesar de o Brasil ainda estar vivendo uma grave crise econômica devido à pandemia da covid-19, neste mês duas empresas já abriram o capital – a mineradora de ouro Aura Minerals e a companhia de gestão ambiental Ambipar. E, com a recuperação da Bolsa de Valores (que fechou, na sexta, aos 102,8 mil pontos, voltando aos níveis pré-pandemia), esse movimento tende a crescer muito daqui para a frente. Ainda para este mês, estão previstas as aberturas de capital do Grupo Soma (dona das grifes de moda Farm, Animale e Maria Filó, entre outras) e da incorporadora Riva9. Em agosto devem vir a rede de farmácias d1000 e a You Inc – outra incorporadora.
E o grosso das ofertas é esperado para ocorrer entre setembro e outubro. Devem chegar no mercado a rede varejista de materiais de construção Quero-Quero, a de produtos para animais de estimação Petz, as incorporadoras Cury, Lavvi e Kallas, a Hidrovias do Brasil, a comercializadora 2W Energia e Caixa Seguridade – uma oferta inicial prevista em R$ 15 bilhões. No total, trinta a quarenta operações do tipo estão sendo estruturadas para o segundo semestre, com um potencial de superar nada menos do que R$ 50 bilhões, mesmo em um ano em que o mercado estima uma retração de 6% do Produto Interno Bruto (PIB).
“As empresas querem dar continuidade aos planos interrompidos em março, quando tiveram de se voltar apenas às suas próprias operações”, diz o chefe de mercado de capitais e renda variável para América Latina do Morgan Stanley, Eduardo Mendez. “Agora, tanto as empresas estão buscando captar, quanto os investidores estão disponibilizando o capital.”
Alessandro Farkuh, responsável pelo banco de investimento do Bradesco BBI, afirma que a carteira de ofertas hoje já está parecida à de antes da crise. Segundo ele, os investidores estão abertos a ouvirem as histórias das companhias, mesmo que as críticas em relação aos negócios estejam maiores. “Para as empresas com uma tese sólida, há muito apetite por parte dos investidores”, diz. “Existe, até mesmo, ‘briga’ por alocação nas ofertas.” A disputa ocorre quando as ações precisam ser divididas entre os investidores, já que nos últimos lançamentos a demanda superou o volume oferecido.
Segundo o diretor de Relacionamento com Clientes da B3, Rogério Santana, ainda há muita incerteza em relação à economia global, mas é natural que o mercado de capitais antecipe o movimento de retomada. “Os investidores estão buscando diversificação e isso passa pelo mercado de capitais”, diz.
*Com Estadão Conteúdo