Em novo ato contra Austrália, China expulsa jornalistas e acusa apresentadora presa

A deterioração das relações entre China e Austrália ganhou um novo capítulo com a expulsão de dois jornalistas australianos, os últimos correspondentes do país em território chinês.

Foto: Reprodução

Bill Birtles, da Australian Broadcasting Corporation (ABC), e Michael Smith, da Australian Financial Review (AFR), trabalhavam em Xangai e Pequim e foram obrigados a deixar a China na madrugada desta terça-feira (8).

Segundo Smith, sete policiais chineses entraram em sua casa na semana passada e o cercaram enquanto liam uma declaração que o designava como parte envolvida em uma investigação de segurança nacional.

“Eles colocaram um holofote no meu rosto. Foi intimidador, eu estava ficando com muito medo”, contou Smith à agência de notícias Reuters.
“Estávamos preocupados que fosse um movimento coordenado. Isso indica que era político. Éramos os únicos dois jornalistas que restaram na China trabalhando para a mídia australiana”, acrescentou, referindo -se a Birtles, para quem a ação pareceu “muito, muito política”.

Os dois buscaram abrigo na embaixada em Pequim e no consulado em Xangai, enquanto diplomatas negociavam com autoridades chinesas para que eles recebessem permissão de deixar o país.

A negociação só avançou quando os dois jornalistas foram questionados sobre suas relações com a australiana Cheng Lei, apresentadora da TV estatal chinesa detida em agosto.

Após o interrogatório, eles foram escoltados por agentes de segurança até o aeroporto de Xangai e embarcaram em um voo para a Austrália. Sua saída deixa as organizações de mídia australianas sem correspondente na China pela primeira vez desde os anos 1970.

“Este incidente visando dois jornalistas, que cumpriam suas obrigações normais de reportagem, é lamentável e perturbador”, disse AFR, em um comunicado.

“É decepcionante que, depois de muitos anos, a Austrália não tenha uma organização de mídia presente na China”, disse a chanceler australiana, Marise Payne.

Nesta terça, o Ministério das Relações Exteriores da China disse que o interrogatório dos dois homens era uma aplicação normal da lei, à qual as autoridades aderiram estritamente durante as investigações.

“Enquanto os jornalistas respeitarem a lei, não há razões para preocupação”, afirmou o porta-voz da diplomacia chinesa, Zhao Lijian.
Ele também divulgou o motivo da prisão de Cheng Lei, detida por quase um mês sem uma acusação formal. Sem dar detalhes, Zhao afirmou que a jornalista foi presa por colocar em risco a segurança do país.

“A australiana Cheng Lei é suspeita de realizar atividades criminosas que colocam em risco a segurança nacional da China. Medidas compulsórias foram tomadas e uma investigação está em andamento pela autoridade competente.”

Segundo Zhao, a primeira autoridade de Pequim a comentar publicamente o caso da jornalista, “os direitos e interesses legítimos de Cheng estão totalmente garantidos”. Ele também afirmou que a China espera que o lado australiano possa trabalhar para aumentar a confiança mútua e expandir a cooperação.

A detenção de Cheng e a expulsão dos dois jornalistas, entretanto, tornaram-se novos tópicos no histórico recente de tensões entre os dois países, que aumentaram quando o governo australiano pediu, em abril, uma investigação internacional sobre as origens do coronavírus e sobre a resposta inicial de Pequim à pandemia.

Desde então, o regime chinês tem reagido com medidas diplomáticas e econômicas que afetam diretamente os interesses australianos, como a suspensão das importações de carne bovina e de cevada e a aplicação de tarifas mais pesadas a outros produtos.

Em julho, a Austrália também irritou o regime de Pequim ao anunciar a suspensão do tratado de extradição com Hong Kong e ampliar o tempo de vistos em resposta à lei de segurança nacional aprovada pela China.
No mesmo mês, o governo de Canberra emitiu um alerta para viajantes de que os cidadãos australianos correm risco de detenção arbitrária na China. Segundo a chanceler da Austrália, a advertência permanece apropriada e inalterada.

Tensões diplomáticas envolvendo jornalistas de outras nacionalidades em território chinês não são novidade. O Clube de Correspondentes Estrangeiros da China disse, nesta segunda-feira (7), que 17 profissionais foram expulsos do país no primeiro semestre de 2020.

Em fevereiro, a China revogou as credenciais de imprensa de três jornalistas do Wall Street Journal depois que o jornal se recusou a se desculpar por uma coluna de opinião que chamava a China de “o verdadeiro louco da Ásia”.

Os jornalistas eram os cidadãos americanos Josh Chin e Chao Deng e o cidadão australiano Philip Wen. A decisão de Pequim veio depois que Washington disse que começaria a tratar cinco entidades de mídia estatais chinesas com operações nos Estados Unidos da mesma forma que trata as embaixadas estrangeiras.

Em março, Pequim também retirou as credenciais de cerca de uma dúzia de jornalistas do New York Times, Wall Street Journal e Washington Post.
As expulsões se seguiram à iniciativa de Washington de reduzir de 160 para 100 o número de jornalistas autorizados a trabalhar nos EUA em quatro veículos da mídia estatal chinesa.

Nesta segunda, a China não renovou credenciais de imprensa expiradas de profissionais de veículos americanos como Wall Street Journal, Bloomberg e CNN. Os jornalistas receberam cartas que lhes dão autorização para trabalhar por mais dois meses com os documentos expirados.

A decisão foi vista como mais uma resposta de Pequim aos EUA, onde jornalistas chineses aguardam a renovação de seus vistos de trabalho e foram autorizados a permanecer em solo americano até o início de novembro.

Nesta terça-feira, a presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, fez um discurso anti-China durante um fórum de segurança com a participação de países asiáticos e do Pacífico.

Sem mencionar diretamente o regime liderado por Xi Jinping, que considera Taiwan uma província rebelde, ela pediu que países democráticos se unam para combater o expansionismo regional da China e suas “ações agressivas unilaterais”.
]”Esta aliança garantirá os valores que mais prezamos: liberdade, segurança, direitos humanos e democracia”.

Fonte: Folhapress

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