A professora Vanessa Lopes descobriu que estava esperando da segunda filha no final do ano passado. A gestação da Claire ia bem, até que a pandemia da Covid-19 chegou. Entre abril e maio, Vanessa não conseguiu fazer os exames do pré-natal e passou esse período sem as consultas mensais com a obstetra. A professora conta que a espera da Claire, que deveria ser um momento de alegria na família, foi rodeada de inseguranças.
Vanessa é uma das milhares de grávidas afetadas pelo fechamento de consultórios e a interrupção de serviços de saúde em decorrência da pandemia de coronavírus. Segundo relatório das Nações Unidas, publicado nesta semana, a crise global da Covid-19 pode reverter 20 anos de avanços na prevenção da mortalidade materna e de crianças com menos de 5 anos. O documento ainda estima que a pandemia pode levar a morte de mais de 24 mil mulheres por problemas relacionados à gravidez, como hemorragia e infecção.
No Brasil, essas duas complicações são, respectivamente, a segunda e a terceira maior causa da mortalidade materna, atrás somente da pressão alta. De acordo com a presidente da Associação de Obstetrícia e Ginecologia de São Paulo, Rossana Pulcineli, o pré-natal é fundamental para reduzir esses riscos e prevenir contra a Covid-19. Entre os dias 26 de fevereiro e 18 de junho, 124 grávidas ou mulheres no puerpério morreram no Brasil infectadas pelo coronavírus, segundo o estudo “A tragédia da Covid-19 no Brasil: 124 mortes maternas e ainda contando”. Os dados levantados por quatro universidades brasileiras apontam que apenas 64% das vítimas receberam ventilação mecânica e 22,6% não foram admitidas em Unidade de Terapia Intensiva.
*Com informações da repórter Nanny Cox