Após passar quase 50 dias para encontrar a filha pessoalmente, Maria Lurdiany teve alta médica no dia 7 de junho, já a pequena Hadassa, que nasceu prematura extrema, segue se recuperando no Hospital Regional Norte, em Sobral. Após parto de urgência por conta da Covid-19, mãe vive expectativa para reencontrar filha
Após ter coronavírus enquanto estava grávida, ficar 26 dias internada em um leito de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) em Sobral, no Ceará, e esperar 48 dias até poder segurar no colo a filha pela primeira vez, a cearense Maria Lurdiany, 36, aguarda agora a alta médica da pequena Diany Hadassa, que segue internada no Hospital Regional Norte (HRN), em Sobral, ganhando peso por conta da prematuridade extrema e se preparando para conhecer o novo lar.
Maria Lurdiany estava grávida de 25 semanas e 6 dias quando contraiu o novo coronavírus e precisou ser internada às pressas, tendo que passar por um parto de emergência, em 21 de maio.
Já fora de perigo e se recuperando em casa, em Ubajara, na região Norte do estado, o tempo ainda parece se arrastar enquanto a mais nova mamãe espera a chegada da primeira filha do casal. “Quando ela chegar, nossa rotina vai mudar muito. Estou muito ansiosa com a chegada. É a maior alegria que poderia sentir na vida. Um presente que Jeová Deus, amorosamente, nos deu”, conta Lurdiany.
Cearense Maria Lurdiany teve quadro grave de Covid-19 e precisou ser internada aos 7 meses de gestação.
Divulgação/Hospital Regional Norte
“Quando tinha 15 anos, tive um cisto no ovário e precisei passar por um tratamento, onde tive, inclusive, que retirar um dos ovários. Ser mãe é um sonho que até então eu achava que nunca ia poder realizar”. Na ocasião, os médicos disseram que a comerciante não poderia engravidar e que, se isso acontecesse, seria de risco. “Jeová Deus nos deu esse grande presente e, apesar de todas as circunstâncias, nossa filhinha nasceu viva e está a cada dia evoluindo”.
A médica Renata Freitas, coordenadora da Neonatal do HRN, que acompanha o caso, disse nesta terça-feira (14) que a bebê nasceu com apenas 920g, prematura extrema. “Ela ficou muito tempo na UTI e teve problemas pulmonares, como hemorragias”, explica. “Nesse período foi muito importante ela estar se alimentando com leite de doadoras. Agora, ela está na UCI, setor intermediário, só aguardando a maturação da deglutição porque ela tem que aprender a mamar”. A pequena segue sendo nutrida pelo banco de leite da unidade.
Na última marcação, Hadassa pesou 1,722 Kg – o ideal para alta médica é 1,8 kg. “O critério peso praticamente será alcançado já nesta próxima semana. Agora, é só esperar ela maturar a boca para conseguir se alimentar sozinha”.
Primeiro contato
Lurdiany deu entrada no Hospital Regional Norte, em Sobral, referência para casos de alta complexidade, em 18 de maio. Diagnosticada com um quadro grave de Covid-19, a comerciante precisou ser reanimada pelos profissionais e passar por um parto de emergência no dia 21 de maio, quando nasceu a primeira filha, Diany, às 17h. As duas só conseguiram trocar o primeiro olhar 37 dias depois do nascimento da bebê, de forma virtual. Somente em 7 de julho, 48 dias depois do nascimento da pequena, Lurdiany pôde segurar a filha pela primeira vez, quando recebeu alta médica.
Cearense ficou mais de 50 dias internada com Covid-19 e conheceu a filha de forma digital somente após o parto.
Divulgação/Hospital Regional Norte
“Ainda sinto muito cansaço quando faço qualquer movimento físico. Sinto uma dormência na cabeça e na perna direita”, disse Lurdiany, na tarde desta terça-feira (14). “Estou muito ansiosa em poder trazer nossa filha para casa. Depois que voltei, já recebi muitos presentes para Hadassa e estou feliz por estar viva e poder cuidar da nossa filhinha. Como eu tenho deficiência auditiva, meu esposo e eu decidimos que a bebê vai ficar no mesmo quarto da gente”, explica.
Vileimar Alves, pai de Diany, é o responsável por organizar os preparativos para a chegada aguardada. “O bercinho dela, o guarda-roupas, também já montou o carrinho. Ele está organizando muita coisa que a nossa filha ganhou. Também estou preparando tudo para o dia em que eu e meu esposo iremos poder trazê-la para casa”.
O pai, que esteve integralmente presente ao lado da esposa, conta que, felizmente, os procedimentos e decisões médicas foram bem-sucedidas e esposa e filha seguem se recuperando. “Agora, minha esposa está tratando as sequelas da doença, que são graves. Por ela ser hipertensa, a Covid-19 agravou bastante o quadro. Viemos para casa, em Ubajara, terça-feira (7). A nossa filha ficou no hospital, mas todo dia recebo notícias da equipe do HRN. Vou ficar indo à unidade para vê-la uma vez por semana até que ela receba alta”, conta.
Gestação é fator de risco
A criança não foi infectada pelo novo coronavírus e está sendo acompanhado pelas equipes do Hospital Regional Norte, sendo nutrida com apoio do banco de leite do hospital. “A bebê continua internada e apresenta um quadro de melhora diária. Ela deve ser estimulada, quando receber alta, por uma equipe multiprofissional por conta do nascimento prematuro, que foi necessário para a melhora da mãe”, ressalta a médica obstetra do HRN, Eveline Valeriano.
A médica lembra que a gestação é um fator de risco de complicação nos casos da Covid-19. “Pesquisas iniciais indicavam que pacientes no ciclo gravídico puerperal não pareciam ter maior risco de desenvolver sintomas graves pela Covid. Mas surgiram publicações mais recentes afirmando que pode sim aumentar os riscos tanto para mães como para os bebês”, explica. Segundo ela, uma das explicações pode ser a imunodepressão da paciente, própria do período, que leva a modificações fisiológicas no organismo materno.
“Lurdiany foi internada com sintomas de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), com falta de ar, necessitando ser entubada. A rápida decisão médica para realizar o parto permitiu a recuperação dela. Foi necessário também que a mãe permanecesse alguns dias internada em UTI e depois na clínica médica para que a alta fosse segura”, diz Eveline.
A especialista afirmou, também, que até 15 dias pós-parto pode haver piora clínica. Por isso, a paciente deve ter a resposta pulmonar e todos os sinais vitais avaliados constantemente.
“Felizmente, alcançamos sucesso. Era um caso muito difícil pela gravidade. Todos nós, do corpo clínica do Regional, ficamos gratos”, destaca a médica.
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G1
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