Nos Estados Unidos, desde maio, os números mostram uma recuperação econômica bem mais vigorosa do que o esperado. O mercado de trabalho, que, nas previsões iniciais, devia apontar alta forte do desemprego naquele mês, surpreendeu os analistas, criando 2,5 milhões de vagas. Algo parecido era esperado no Brasil, que reabre a economia no ritmo da reabertura americana. Mas o IBC-Br, Índice de Atividade Econômica do Banco Central, divulgado nesta terça-feira, 14, decepcionou. O IBC-Br é considerado uma espécie de prévia do PIB, antecipando os resultados da economia. A expectativa do mercado financeiro era de alta de 4,5%. Mas subiu apenas 1,3%.
O resultado não deixa de ser positivo. Mesmo revisada agora pelo Banco Central, de -9,73% para -9,45%, a queda do PIB em abril foi a pior do mês na série histórica. A alta de maio sugere que, apesar da epidemia da Covid-19 ainda não ter sido controlada, o pior já passou. Mas o ritmo da recuperação é lento. Esta recuperação mais devagar não é problema só dos brasileiros. A União Europeia já aumentou o pacote de estímulos para 1,3 trilhão de euros para lidar com a queda do PIB. Já os Estados Unidos, mesmo tendo gastado US$ 3 trilhões (o equivalente a R$ 16 trilhões) em um grande pacote de ajuda, preparam outro com o mesmo tamanho.
O Brasil não tem todo esse dinheiro. É por isso que deve ser comemorada a disposição do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, de colocar a reforma tributária em discussão, mesmo sem o Senado. Apesar de fundamental para o futuro do país, a reforma está parada no Congresso. Uma comissão mista da Câmara e do Senado analisava o tema, mas os trabalhos foram suspensos em abril devido às medidas de isolamento com o coronavírus. Com o Senado com mais dificuldades de retornar à discussão, a Câmara agora resolveu tomar a frente.
Nosso sistema tributário não tem paralelo no mundo. Cobramos imposto na origem, onde o bem é fabricado, não onde é consumido. Além disso, a legislação é caótica, com impostos indiretos e mecanismos, como PIS-Cofins, que só tornam mais confusa a cobrança. E cada mudança de regra cria um novo problema para as empresas e litígios intermináveis com a Receita Federal. A reforma que volta à discussão na Câmara dificilmente resolverá todo esse emaranhado. Mas, se criar um imposto sobre valor agregado, simplificar e unificar tributos, já será um avanço imenso. A prévia do PIB sinaliza que o país corre o risco de ficar para trás na recuperação. E, com o Brasil sem dinheiro para nova rodada de grandes estímulos, a reforma pode ser a solução.
*Samy Dana é economista e colunista da Jovem Pan.