Uma publicação que circula nas redes sociais, desde o dia 10 de junho, engana ao aconselhar uma receita de “medicina natural” para combater os sintomas da Covid-19. O texto, publicado pela página “Alertando a Cidade”, ressalta que o vírus passaria por “fases de ataque”, antes de ocorrer o risco de morte. Ainda no mesmo post, há uma recomendação de medicamentos naturais, que seriam eficientes para combater o novo coronavírus “nos primeiros quatro dias de contaminação”.
O texto, verificado pelo Comprova, não está assinado e o nome do responsável pela receita não é revelado. Os responsáveis pela página foram procurados pelo Comprova, mas até agora, não responderam às tentativas de contato.
Por meio de buscas no Google Imagens e no Binge Image Match, o Comprova encontrou o homem que aparece na publicação. É o médico-infectologista e farmacêutico Fernando Martins Selva Chagas, diretor-geral do Complexo Hospitalar de Doenças Infecto-contagiosas Dr. Clementino Fraga, em João Pessoa, na Paraíba.
A imagem do médico surgiu a partir de um depoimento que ele fez na edição do Jornal Nacional, da TV Globo, no dia 13 de maio. Procurado pelo Comprova, Chagas confirmou que a imagem é mesmo dele e ressaltou que nunca prescreveria on-line algo “absurdo” como foi colocado no post. “Sempre penso as prescrições, elas são feitas individualmente, para cada pessoa. A gente considera idade, peso, uma série de características. É importante ver o paciente; é importante retornar ao paciente. Você imagina a quantidade de pessoas expostas às ações dos medicamentos e substâncias porque estão lendo isso daí?!”, afirmou, indignado.
Sobre as fases do vírus, o infectologista afirma que existem etapas do avanço da doença, porém não é como foi colocado na publicação enganosa. A ideia, segundo o especialista, é entender os sintomas para que seja possível atuar com mais eficiência no uso dos medicamentos.
Já a receita verificada pelo Comprova menciona uma série de medicamentos e métodos “naturais” que devem ser usados em cada uma das “fases da infecção”. Além de drogas como a hidroxicloroquina e a ivermectina, são citadas dicas de medicina natural, que segundo o texto, devem ser usadas de forma complementar.
Entre as sugestões, estão chá de casca de alho, uma mistura de mel, açafrão e outras ervas, além de vitamina D. Cada elemento seria usado para combater um dos sintomas da Covid-19. Para baixar a febre, por exemplo, a publicação recomenda “banho e/ou toalha molhada no corpo”.
Segundo o médico infectologista e consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia, Alexandre Naime, a combinação de medicamentos e compostos de “medicina natural” não tem qualquer eficácia cientificamente comprovada no tratamento de pacientes da Covid-19. “Não existe, como já comprovado, inclusive para outras patologias, benefício de shot de vitamina D; nada de coquetel de imunidade funciona”, afirma Naime.
Além da ausência de comprovação de qualquer eficácia no tratamento do novo coronavírus, a Anvisa ainda alerta que, ao contrário da crença popular, as plantas medicinais e os medicamentos fitoterápicos podem provocar “diversas reações como intoxicações, enjoos, irritações, edemas (inchaços) e até a morte, como qualquer outro medicamento”.
No caso da hidroxicloroquina, a OMS (Organização Mundial de Saúde) aceitou a recomendação do Comitê Diretor Internacional do Estudo de Solidariedade para interromper os estudos sobre hidroxicloroquina devido aos baixos resultados ou avanços na redução da mortalidade de pacientes com Covid-19 hospitalizados. Sobre o uso do antiparasitário ivermectina, o órgão, por meio da Organização Pan-Americana da Saúde publicou uma recomendação apontando que, apesar de alguns resultados positivos em testes laboratoriais, ainda não há resultados suficientes e seguros para indicar o medicamento para o tratamento da doença.
Em relação à azitromicina, apesar de a OMS não apontar um remédio ou tratamento eficaz contra a Covid-19, o Ministério da Saúde brasileiro elaborou uma cartilha sobre orientações para uso de medicamentos, e orienta o uso da azitromicina nos primeiros cinco dias de tratamento, combinado com a hidroxicloroquina.
O Comprova publicou em 8 de julho uma investigação que aponta ser falso um texto que afirma que medicamentos como azitromicina e ivermectina seriam úteis sem consulta médica.
Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.
Fonte: Folhapress
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