Em meio à pandemia, maior volume de veículos nas ruas pode indicar preferência por transporte individual em Fortaleza

Especialistas acreditam que está havendo migração de usuários do transporte público para o individual em decorrência do novo vírus. Se no início da pandemia houve uma redução no volume de tráfego de veículos em Fortaleza, a quantidade de deslocamentos através de meios automotivos nas últimas semanas mostra o retorno à rotina anterior e pode indicar uma preferência pelo transporte individual.
A última sexta-feira (17) registrou o volume de tráfego mais próximo dos dias anteriores à pandemia, de acordo com os dados da Autarquia Municipal de Trânsito e Cidadania (AMC).
O total de veículos que circulou pelos 106 pontos diferentes da Capital foi apenas 10% a menos do que os primeiros dias de março. No início do isolamento social e do isolamento social rígido, decretados pelo Governo do Estado, a taxa era cerca de 55% a menos.
Congestionamentos
O volume de congestionamentos de trânsito na cidade também vem sendo monitorado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Segundo a entidade, na semana entre 6 e 12 de julho – dados mais atuais coletados –, o índice de congestionamento é 43% inferior ao que ocorria antes da pandemia. Durante o período de isolamento social, esse número chegou a -83% em toda a cidade.
O aumento no volume de veículos e de congestionamentos na cidade nos últimos dias, ocorre em um contexto no qual a frota de ônibus ainda se mantém inferior à de antes. Na última sexta-feira (17), o Sindiônibus informou que, em junho, circulavam 1.102 ônibus pela cidade, cerca de 64% do total.
Após denúncias de superlotação, o Ministério Público do Ceará (MPCE) interveio e realizou audiência online para cobrar medidas efetivas do Sindicato, que prometeu colocar mais 140 veículos nas ruas a partir de segunda-feira (20).
Ministério Público pede retorno de 100% da frota de ônibus na capital
Mudança
Para o coordenador da Iniciativa Bloomberg de Segurança Viária Global, Dante Rosado, o maior crescimento no volume de veículos se deve à retomada das atividades econômicas.
“É natural que esse fluxo volte e aumente. O que a gente vem discutindo é como será esse comportamento quando todas as atividades estiverem liberadas. A gente sabe que a tendência é de as pessoas migrarem do transporte coletivo pro individual, pois o coletivo é um local reconhecidamente com grande potencial de transmissão”, argumenta.
Preferência
O promotor de vendas Ronyere Barbosa, de 28 anos, saía diariamente do bairro João XXIII até o Dionísio Torres para o trabalho. A viagem longa só não era tão pesada financeiramente por causa do trajeto que fazia de ônibus prioritariamente. Agora, durante a pandemia, embora tenha voltado às atividades presenciais apenas no mês de junho, a preferência é pelo carro que tem em casa, o qual era usado quando requeria mais conforto no deslocamento.
Na visão do sociólogo Irapuan Peixoto, a pandemia é um aspecto que deve fortalecer o uso de meios individuais para deslocamento, mas a “cultura do carro”, de caráter ocidental, também fortalece essa preferência.
Na visão de Dante Rosado, a preferência por meios individuais de transporte gera preocupações que vão além do congestionamento e da poluição. “Principalmente em acidente de trânsito, porque o que menos a gente quer agora é ter outras causas que estejam demandando recurso da rede hospitalar que não seja Covid”, avalia.
O coordenador da Bloomberg acredita que a melhor forma de haver migração é do transporte público para a bicicleta, uma vez que o meio é saudável e tende a provocar menos efeitos no trânsito da cidade.

By Samanta Abdala

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