Domicílios com insegurança alimentar crescem de 12% para 19% no Ceará, diz IBGE


Índice se refere à insegurança alimentar de moderada a grave nos últimos cinco anos. Mais de dois milhões de domicílios cearenses participaram da pesquisa. Fome volta a subir no Brasil, diz pesquisa do IBGE
A Análise da Segurança Alimentar no Brasil, divulgada nesta quinta-feira (17) pelo IBGE, mostra que 19% dos entrevistados cearenses encontram-se nas categorias moderada a grave de insegurança alimentar, que se caracteriza pela forte tendência de fome. Em 2013, de acordo com o Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), esse número era 12,5%.
A insegurança alimentar, seja ela do tipo leve, moderado ou grave, esteve presente em 1,3 milhão de domicílios cearenses, dos 2,8 milhões que participaram do questionamento feito pelo IBGE. Esse número representa 46,8% dos entrevistados do Estado.
No Brasil, em cinco anos, aumentou em cerca de 3 milhões o número de pessoas sem acesso regular à alimentação básica, chegando a, pelo menos, cerca de 10,3 milhões o contingente nesta situação.
Fome no Brasil
Economia G1
O domicílio classificado no tipo de insegurança alimentar leve é porque existe a preocupação quanto o acesso a alimentação no futuro e a qualidade do ato já está comprometida, onde os moradores assumem estratégias para manter a quantidade mínima de alimentos disponíveis.
Já o domicílio que apresenta insegurança alimentar moderada, é aquele que quando os moradores tem uma quantidade restrita de alimentos e a insegurança grave é quando a os residentes passam por privação severa na alimentação, chegando a fome.
Na comparação com a última vez que o tema foi abordado, em 2013, onde 2,6 milhões de domicílios participaram da pesquisa, o número de domicílios registrados com insegurança alimentar era de 965 mil, sendo 196 mil moderada e 136 mil grave, já na POF 2017-2018, esse número saltou para 375 mil moderada e 175 mil grave, um aumento significativo. A insegurança alimentar grave passou de 5,1% para 6,1%.
Difícil realidade
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A dona Maria Ferreira, catadora de resíduos, viva com a realidade da insegurança alimentar diariamente. A catadora que acorda às quatro horas da manhã para recolher reciclagem nas ruas de Fortaleza, mesmo com todo o esforço, o dinheiro não é o suficiente para garantir a comida da mesa.
“O que a gente apura, com a reciclagem, a gente compra comida e paga energia, paga água e vai levando”, relata Maria. “Às vezes [a comida] não dar, porque é muita gente em casa e tem que ter comida para dar aos meninos, nem que seja um pouquinho, mas tem que dar para eles”, completa.
“Eu tenho que sair de manhã cedinho para arranjar alguma coisa, ou então não dar. Com essa pandemia que deu, ficou pior ainda a situação, com os depósitos de reciclagem fechados. A minha sorte é que as pessoas que me veem na rua, me perguntam se eu quero uma ajuda, que é um arrozinho, um feijão e aí eu trago para casa, para gente comer”, conta a catadora.
De acordo com Maria, essa realidade não é uma novidade já que convive com a insegurança alimentar a mais de 20 anos. “A nossa renda é só dessa reciclagem, não tem de outro canto para vir, não é um dinheiro certo”, enfatiza Maria. “Quando falta, Deus ajuda, ou então a gente faz uns dois ovos para todo mundo aqui dividir”, pontua. Na casa de catadora vivem cinco pessoas.
Catadores do Ceará relatam situação de insegurança alimentar
Governo do estado
Ações
De acordo com a Secretaria da Proteção Social, Justiça, Cidadania, Mulheres e Direitos Humanos (SPS), o Governo do Estado do Ceará atua para combater a insegurança alimentar através de diversos programas, como o Mais Nutrição, que já realizou doação de mais de 500 toneladas de alimentos para cerca de 27 mil cearenses. Hoje o programa beneficia cerca de 16 mil crianças e adolescentes, em situação de vulnerabilidade social de 91 entidades de Fortaleza, Caucaia e Maracanaú.
O programa também já ofertou “doações para 31 municípios do Estado com necessidades diversas, como vítimas de enchentes, entidades artesanais, artistas circenses, instituições que atendem pessoas em situação de rua, crianças com câncer e fissura lábio-palatal e famílias atendidas pelo Mais Infância”, detalha a pasta.
Além disso, também está em funcionamento o Cartão Mais Infância, que beneficia mais de 45 mil famílias, em situação de extrema pobreza, mensalmente, com o valor de R$ 85. “A transferência de renda é feita para famílias com crianças na primeira infância e em situação de extrema pobreza”, explica em nota. A ajuda representa um investimento anual de aproximadamente R$ 50 milhões por parte do Governo do Ceará
Quanto a novos projetos, a SPS destacou que “está desenvolvendo o projeto de um restaurante social, com previsão de iniciar o funcionamento no ano que vem”, pontua. De acordo com a pasta, a ideia é ser uma experiência piloto com o objetivo que esses restaurantes possam ser desenvolvidos outros espaços.

By Samanta Abdala

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