O ex-ministro da Fazenda, Maílson da Nóbrega, acredita que uma crise climática pode trazer prejuízos mais graves para a economia brasileira do que a pandemia da Covid-19. Em entrevista ao Jornal da Manhã, o também economista defendeu a necessidade de se caminhar para uma “economia de baixo carbono” que considere as questões ambientes e busque a preservação da população indígena e da Amazônia. As considerações de Maílson acontecem após ex-ministros e ex-presidentes do Banco Central publicarem carta alertando para a necessidade de uma responsabilidade social e ambiental para a retomada econômica.
“Não prescrevemos uma proposta, são princípios que as questões ambientais devem ser incorporadas na preparação do país para enfrentar a retomada econômica. Se busca o ganho da produtividades, mas também a preservação do meio ambiente. Caminhamos para uma situação muito difícil, uma crise climática pode ser mais grave do que a pandemia, porque atinge desproporcionalmente os segmentos da economia.”
Maílson da Nóbrega explica que os fundos internacionais, atualmente, não se preocupam “apenas em como vão aplicar seus investimentos, mas também onde os recursos serão destinados”, defendendo que os investidores não querem se associar a empresas e países que não tenham uma visão sobre a preservação do meio ambiente. Para o ex-ministro, empresas que estiverem aderentes às novas propostas terão dificuldades para receber financiamentos externos, o que aumenta a necessidade da responsabilidade ambiental.
“A ideia é que o país deve caminhar para uma economia de baixo carbono, discutir a tributação do carbono e circular ideia que todos os resíduos são aproveitáveis, a água pode ser reutilizada. Então outro ponto de apoio é uma política de desmatamento zero. O que está em jogo é o futuro do planeta, há vários estudos mostrando que se continuar como está, em algum momento a desertificação da Amazônia se tornará irreversível. Isso afeta o agronegócio, os interesses dos países vizinhos, a sociedade brasileiro e o mundo. Então o mundo está se preocupando com o futuro do planeta, não é uma cobiça internacional pela Amazônia”, defende.
O ex-ministro da Fazenda ressalta que além de perder investimentos estrangeiros, a falta de políticas para a preservação do meio ambiente podem impulsionar movimentos de boicotes aos produtos brasileiros no exterior. Segundo ele, atualmente, “o consumidor quer saber se a soja que está consumindo veio de reservas indígenas ou da Amazônia devastada”, o que já estaria contribuindo para a queda nas exportações. Maílson da Nóbrega, no entanto, acredita que a intensa cobertura da imprensa e a retomada das discussões sobre o meio ambiente já levaram a positivas reações do governo. “O governo já fala em suspender as queimadas por 120 dias, criou o Conselho da Amazônia. O Brasil tinha uma imagem muito boa e que foi gravemente deteriorada, então espero que essa reação resulte em uma atividade mais responsável para os compromissos que o país precisa ter com a preservação da Amazônia e com o cerrado também.”