Após fiscalização por conta da pandemia, Decon já autuou quatro empresas do serviço no mês de julho. Aglomerações são comuns nos terminais de ônibus na capital cearense
Thiago Gadelha/SVM
Embora Fortaleza esteja na terceira fase do Plano de Retomada das Atividades Econômicas com operação de 100% das cadeias de indústria e comércio, a frota de ônibus na capital cearense segue com o contingente de apenas 70% em circulação. O cenário impõe impasses no cotidiano de quem depende do transporte público. De acordo com a Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza (Etufor), ainda não há previsão sobre o retorno completo.
“Atualmente, a Fase 3 tem apresentado uma média de 42,5% da demanda do período típico pré-Covid e com 70% da operação regular, isto é, 1200 ônibus, com 218 reservados para atendimento de linhas que apresentarem demanda acima do esperado. Assim, o retorno completo da frota ocorrerá junto da evolução gradual da demanda, acompanhada pelo monitoramento diário realizado pela Etufor”, explicou a empresa por nota.
A educadora Valéria Araújo relata as dificuldades que enfrenta ao se deslocar diariamente do Parque Dois Irmãos a Bela Vista para trabalhar. “Na normalidade dentro da rotina já é complicado. Os ônibus não dão conta da demanda. Imagine agora, com a pandemia. Com a redução da frota é impossível se sentir seguro”. Segundo ela, são recorrentes as cenas de aglomeração na busca por transporte coletivo durante o percurso.
Além da lotação, Valéria conta que, durante a pandemia, com uma das linhas de ônibus que ela usava sem funcionar, precisa passar por dois terminais, o da Parangaba e o do Lagoa, onde, de acordo com ela, não há demarcação para assegurar o distanciamento necessário entre os passageiros.
Outra usuária do serviço também passa por situação semelhante. A analista fiscal de produtos de farmácia Ana Barros, mora no Bairro João XXIII e se descola ao Bairro Centro diariamente para o trabalho. “Eu trabalho de segunda a sábado e tem sábados que espero uma hora no terminal. Quando o ônibus vem, já tem muita gente esperando. É impossível não ter aglomeração”, diz.
Ana também comenta sobre as demarcações no local, que, quando existem, são ignoradas pelos passageiros.
“Desde antes da pandemia da Covid-19, o processo de redesenho das linhas a partir do monitoramento de demanda e da oferta é um processo contínuo e que acompanha a operação diária, sendo o processo que, historicamente, conduz alterações de rota, criação e fusão/supressão de linhas, visando sempre melhor utilizar a frota ao dedicar veículos para as linhas de maior lotação”, detalhou a Etufor sobre a suspensão de determinadas linhas.
Em fiscalização nos terminais do Antônio Bezerra e do Siqueira no começo deste mês, o Ministério Público do Ceará, por meio do Programa Estadual de Proteção e Defesa do Consumidor (Decon), autuou quatro empresas. De acordo com o diretor de fiscalização do Decon, Pedro Ian Sarmento, dentre as irregularidades constam o transporte de passageiros em quantidade excessiva e ausência de demarcação que indique o distanciamento seguro nas filas nos terminais.
Pedro explica ainda que as empresas estão em um prazo que ainda podem apresentar defesa junto ao Decon, mas a fiscalização deve continuar em outros terminais este mês. O órgão também irá oficiar a Etufor para prestar esclarecimento em relação aos serviços ofertados. Entretanto, não há data prevista para a ação.
Medidas para o uso seguro
Para a enfermeira, especialista em doenças infecciosas e coordenadora do Grupo de Trabalho de Enfrentamento à Pandemia na Universidade Estadual do Ceará (Uece), Maria Lúcia Duarte, esse retorno requer conscientização da população. “Na prática, é preciso que as pessoas mais suscetíveis fiquem, de fato, em casa. E, sobretudo, se precisar sair, evitem o transporte coletivo em horário de picos”, explica.
Medidas como a manutenção de janelas abertas durante as viagens (tal ação vem ocorrendo nos ônibus desde março e conforme o Metrofor também acontece nas linhas metroferroviárias); realização de viagens somente com passageiros sentados e com máscaras; instalação de equipamentos com álcool em gel dentro dos veículos; e a higienização dos transportes a cada viagem são indicadas pela professora para manter a segurança dos passageiros.
De acordo com a Companhia Cearense de Transportes Metropolitanos (Metrofor), desde o retorno do serviço em 1º de junho, é necessário usar máscaras para utilizar as linhas do modal, manter o distanciamento e cumprir as marcações sinalizadas nos assentos. Outra medida adotada foi a implantação de dispensadores de álcool em gel em todos os trens e estações.
Somente em junho, 332.424 passageiros utilizaram as linhas Sul, Oeste e o VLT Parangaba-Mucuripe. “É preciso ter muito cuidado em todos os transportes. Principalmente depois de sabermos dessa possibilidade de o vírus se manter no ar”, reforça a enfermeira Maria Lúcia, fazendo referência à carta assinada por mais de 230 cientistas no mundo endereçada a Organização Mundial da Saúde (OMS), na primeira semana de junho. Nela, eles afirmam que uma outra forma de transmissão do novo coronavírus é por meio de partículas suspensas no ar.
Conforme o médico e doutor em saúde pública Bruno Benevides, o ideal é que os ônibus transportem somente passageiros sentados, além de defender o aumento da frota. Para ele, os cuidados ao usar o serviço devem ser reforçados. “As máscaras de pano protegem mais a outra pessoa do que as pessoas que estão usando. Por isso, além de usá-la é preciso higienizar as mãos sempre e, no dia a dia, nos ônibus, se afastar das pessoas que não estão usando máscaras”, pontua.
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G1
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