Estudo foi feito em 57 hospitais brasileiros, sendo três no Ceará. Azitromicina é ineficaz contra Covid-19, aponta estudo
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Pacientes em estado grave internados em três hospitais do Ceará, sendo dois privados e um público, foram investigados no mais recente estudo nacional sobre uso do antibiótico azitromicina para tratar a Covid-19. A pesquisa foi publicada sexta-feira (4) na revista The Lancet, um dos principais periódicos científicos do mundo.
Ela é uma iniciativa da Coalizão Covid-19 Brasil, um consórcio formado por oito organizações de saúde do Sul e Sudeste do país, e envolve centros de pesquisas em outras regiões. No total, 397 pessoas foram analisadas neste ensaio clínico.
No Ceará, o estudo que constatou a ineficácia do medicamento para tratar a doença teve pacientes do Hospital Maternidade São Vicente de Paulo, em Barbalha; do Hospital de Messejana Dr. Carlos Alberto Studart Gomes, em Fortaleza; e do Hospital Unimed Cariri, em Juazeiro do Norte.
A Coalizão Covid-19 Brasil, é composta por o Hospital Israelita Albert Einstein, o Hospital do Coração (HCor), o Hospital Sírio Libanês, o Hospital Moinhos de Vento, o Hospital Alemão Oswaldo Cruz, a Beneficência Portuguesa de São Paulo, a Brazilian Clinical Research Institute (BCRI) e a Rede Brasileira de Pesquisa em Terapia Intensiva (BRICNet).
Ao longo da pandemia, a Coalizão tem feito parcerias com outros hospitais e centros de pesquisas em diversos estados do país para conduzir pesquisas de abrangência nacional.
57 hospitais no Brasil
Azitromicina não é eficaz no tratamento da Covid-19, diz estudo brasileiro
O estudo chamado coalizão II testou a azitromicina e teve participação de 57 hospitais e centros de pesquisa do Brasil. As unidades randomizaram, pelo menos, um paciente no processo. As pessoas investigadas foram divididas aleatoriamente em dois grupos. Em seguida, 214 delas receberam azitromicina mais o tratamento padrão, e outras 183 receberam apenas o tratamento padrão, sem azitromicina.
O cardiologista cearense, médico do Hospital Albert Einstein, professor da Universidade de São Paulo (USP) e integrante da Coalizão, Remo Holanda de Mendonça Furtado, ressalta que os pesquisadores avaliaram se em 15 dias o grupo com azitromicina estaria melhor que o sem. “Mas, não houve diferença entre grupos em termos de probabilidade de melhora clínica”, acrescenta.
Os médicos avaliaram ainda a mortalidade dos pacientes em 29 dias. “A mortalidade dos dois grupos foi muito parecida. Cerca de 40% dos pacientes morria em cada grupo”, conta Remo. De acordo com ele, a azitromicina é um antibiótico amplamente utilizado no Brasil, dentre outros, em situações como infecções respiratórias bacterianas (faringite), em casos de pneumonia e em tratamento de doenças sexualmente transmissíveis. Conforme o médico, havia a hipótese que o medicamento poderia melhorar a imunidade e diminuir a inflamação do pulmão nos casos de Covid. Mas, o estudo não comprovou essa melhora.
Estudo no Ceará
Profissionais da educação fazem testes para Covid-19 em Fortaleza.
Natinho Rodrigues/SVM
Nos hospitais do Ceará, a pesquisa foi conduzida pelos médicos: Meton Alencar Filho (Hospital Maternidade São Vicente de Paulo), Thales Aníbal Leite (Hospital Unimed Cariri) e Sandra Falcão (Hospital de Messejana). Remo reforça a relevância de unidades do Estado participarem de pesquisas científicas, pois, afirma ele, isto garante a representação do Brasil inteiro na investigação da Coalizão.
No Cariri, o diretor assistencial do Hospital Unimed, médico Sérgio de Araújo, reitera a importância dessa participação em meio a uma “situação gravíssima da pandemia”.
Sérgio relata que o Hospital Unimed Cariri está envolvido em seis pesquisas referentes à Covid e no estudo com a azitromicina, conta ele, os pacientes foram são incluídos através de um sistema randomizado. “Ele é internado e eles são classificados dentro de critérios específicos. Esse paciente é analisado pra saber se preenche esses critérios”, acrescenta.
Caso o paciente esteja lúcido e seja maior de idade, esclarece Sérgio, assina um termo para assegurar a participação. Caso não esteja nessas condições, o responsável pela pessoa internada pode realizar o procedimento. Os dados de todos os centros de pesquisa são colhidos e repassados ao hospital que centraliza a investigação.
Sérgio também enfatiza que apesar da corrida contra o tempo, tendo em vista a rápida transmissão do vírus e severidade da Covid em alguns casos, a pesquisa científica não pode abrir mão do rigor dos protocolos. Os estudos da Coalizão, garante ele, têm justamente esse mérito.
“Existe todo um protocolo a ser seguido. Para se ter um resultado consistente, precisa de um certo ritual científico. Agora, temos trabalhos mais robustos, não foi queimada nenhuma etapa, e isso dá um resultado mais seguro. Em benefício dos doentes propriamente ditos.”
Cearenses foram investigados em estudo que comprovou ineficácia da azitromicina para tratar Covid-19
