Policiais usavam sistema do estado para escolher ‘alvos’ de crimes em Fortaleza, diz Ministério Público


Os alvos eram traficantes com poder aquisitivo ou com passagens na polícia para extorquir dinheiro ou associar-se a eles. Eles cobravam até R$ 10 mil de outros criminosos. Operação do Ministério Público apura policiais que usavam sistema do estado para localizar ‘alvos’ dos crimes
MPCE/Divulgação
A organização criminosa formada por agentes e ex-agentes de segurança pública no Ceará, alvo da Operação Gênesis deflagrada nesta quarta-feira (16) pelo Ministério Público do Ceará (MPCE), se aproveitava do sistema de informações da polícia para selecionar criminosos de alto poder aquisitivo para serem “vítimas” de extorsão, conforme o Ministério Público.
Até o fim da manhã desta quarta, 15 pessoas foram presas, sendo oito policiais militares e dois policiais civis.
“Eles faziam todo o levantamento, através do sistema da polícia, levantavam os antecedentes criminais, os bens do suspeito e, a partir disso, escolhiam o dia e horário onde esse traficante iria ser abordado. No momento da ação, eles extorquiam os criminosos em valores que poderiam variar entre R$ 5 mil e R$ 10 mil”, afirma Adriano Saraiva, promotor de Justiça do Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas.
Os agentes extorquiam valores dos traficantes, facilitavam o tráfico de drogas realizado por facções, e praticavam crimes de corrupção e de venda de armas.
Nove policiais militares na ativa e três policiais civis na ativa estavam associados à organização criminosa, comandada por um policial civil aposentado, contando ainda com outros quatro homens suspeitos de atuarem como traficantes. Destes, oito policiais militares e dois policiais civis foram presos, além do chefe da organização e dos outros quatro suspeitos, sendo que um deles já se encontrava no sistema penitenciário do Ceará.
Os mandados de prisão e de busca e apreensão foram cumpridos em Fortaleza e Maracanaú.
Em nota, o advogado coordenador jurídico do Sindicato dos Policiais Civis e de Carreira do Estado do Ceará, Kaio Castro, disse estar acompanhando desde o início da manhã os procedimentos de buscas e apreensões e cumprimentos dos mandados de prisões.
“Não foi disponibilizada ainda nem mesmo a decisão que deu origem às medidas. Logo não sabemos quais são as acusações. Protocolamos pedido de acesso ao processo ainda pela manhã de hoje e aguardamos o deferimento rápido para as medidas cabíveis”, informou.
4 anos de investigações
A Operação Gênesis surgiu após investigação realizada em 2016 contra grupos ligados a crimes como tráfico de drogas, homicídios e assaltos realizados em Fortaleza e Região Metropolitana. Durante o trabalho, a polícia identificou o envolvimento de traficantes com policiais.
“Uma característica da criminalidade organizada é ter um braço do estado, busca sempre ter gente do estado para facilitar a sua atuação”, comentou Rinaldo Janja, promotor de Justiça e coordenador do Grupo de Combate ao Crime Organizado (Gaeco).
Planejamento e ação
Primeiro, o grupo realizava um levantamento sobre a vida pregressa dos alvos, se possuíam bens e imóveis, e os antecedentes criminais. Utilizando o sistema da polícia para ter acesso às informações. A partir daí, planejavam dia e local para realizar uma falsa prisão, usando carros da polícia e todo o aparato policial para simular a legalidade da ação, explicou Adriano Saraiva, promotor de Justiça e membro do Gaeco.
A investigação também revela que os traficantes e criminosos “vítimas” dos agentes integram um núcleo criminoso independente, com atuação somente no Ceará, sem vínculo a outras facções conhecidas, informou Rinaldo Janja.
Após a abordagem do alvo, um núcleo da organização criminosa, formado pelos policiais militares, entrava em ação, extorquindo a “vítima”. As investigações mostraram que a organização criminosa realizou diversas extorsões, tendo êxito em algumas, mas não divulgou a quantidade. Os valores exigidos variavam, chegando a R$ 10 mil, informou Saraiva.
Os policiais civis foram denunciados por associação criminosa e por comércio ilegal de armas. Eles se associavam à uma organização criminosa atuante no estado e a outros traficantes para venda de armas.
A operação do Ministério Público do Ceará (MPCE) foi realizada por meio do Grupo de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), e contou com apoio da Coordenadoria de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social; do Departamento Técnico Operacional (DTO) da Polícia Civil; da Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário (CGD); da Secretaria de Administração Penitenciária (SAP); e do Comando da Polícia Militar.

By Acontece Ceará

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